
Um caso nebuloso ronda o Ministério da Saúde, um empresário e um laboratório indiano fabricante da vacina Covaxin. A Polícia Federal entrou na história e começa a investigar a suspeita de corrupção. Desperta suspeita o fato de o empresário ter intermediado a venda do imunizante a um valor que à época era mais caro que se o Ministério comprasse da Pfizer. A informação exclusiva é trazida nesta manhã de segunda-feira por Diego Escosteguy, do blog “O Bastidor”:
“Com autorização do Supremo, a Polícia Federal investiga por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro o lobista e empresário Francisco Emerson Maximiano, o Max. Ele é o dono verdadeiro da Precisa Medicamentos e obteve representação da indiana Bharat Biotech para revender a vacina Covaxin no Brasil. Max transita bem pelo centrão e entre parlamentares do PT e do MDB. Em fevereiro, o Ministério da Saúde fechou contrato de US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,6 bilhão) para comprar 20 milhões de doses do imunizante. Não havia perspectiva de autorização de uso emergencial pela Anvisa e sobravam dúvidas acerca da segurança e da eficácia da Covaxin. Contudo, Max conseguiu vender as 20 milhões de doses imunizante ao Ministério da Saúde ao preço unitário – e inacreditável – de US$ 15 dólares. Para acobertar a participação de Max, a Precisa é estruturada de modo aparentemente complexo. Por trás da teia de empresas e de pessoas próximas em posições de direção, porém, está Max. O Bastidor obteve cópias do contrato da Precisa com o Ministério da Saúde, dos documentos comerciais da rede de empresas do lobista e, ainda, evidências das principais investigações sobre as atividades suspeitas dele. No mesmo momento em que aceitava pagar US$ 15 dólares por uma vacina duvidosa vendida por um lobista investigado por corrupção pela PF perante o Supremo, o Ministério da Saúde relutava em fechar por US$ 10 dólares unitários o contrato de cem milhões de doses com a Pfizer. O imunizante da farmacêutica americana usa a plataforma mRNA. Trata-se de um tipo de vacina mais avançada – e mais cara – do que a Covaxin. Após seguidos atrasos, o governo firmou em março a compra com o laboratório americano. Como a Pfizer fora aprovada pelo FDA e fizera estudos de fase 3 no Brasil, não havia dúvida de que a Anvisa autorizaria o uso da vacina – situação oposta à da Covaxin. (A agência concedeu em fevereiro o primeiro registro definitivo no Brasil à Pfizer.). Enquanto fechava mais um contrato controverso com um órgão público, Max era procurado por delegados de elite da PF, que querem tomar o depoimento dele num caso de desvio de dinheiro do Postalis, o fundo de pensão dos Correios. Tanto a Precisa quanto a Global Saúde, empresa anterior de Max e que participa da organização societária da Precisa, são veículos de lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos, segundo investigações da Polícia Federal, da Receita e do Ministério Público. A CPI da Pandemia aprovou a convocação de Max. Espera-se que o depoimento dele ocorra nesta semana. Os senadores querem entender as circunstâncias da negociação do contrato de US$ 300 milhões”.