
Morto na madrugada de ontem (10), no Rio de Janeiro, aos 100 anos de idade, o jornalista Hélio Fernandes era uma destas personalidades extremamente raras. Tinha tanto vigor e disposição que ainda escrevia diariamente em seu Facebook. Chegou um tempo, na década passada, que eu não passava um dia sem ler a coluna dele, na Tribuna da Imprensa (RJ). Ele havia comprado o jornal de Carlos Lacerda na década de 1960. Em 2008, a Tribuna fechou, sucumbindo ao advento da Internet. Hélio talvez tenha sido o jornalista mais perseguido pela Ditadura Militar. Foi preso, teve os direitos políticos cassados. Em janeiro, ele tomou a primeira dose da vacina contra a Covid-19. Democrata, corajoso, combativo, homem culto, tinha um texto ferino, às vezes sarcástico, mas sempre sintonizado com seu tempo.

Escrevia sobre tudo, desde o tênis (era apaixonado pelo esporte), turfe e outros esportes até sobre economia e política, esta sim a “cachaça” que o alimentava. Nacionalista, parecia soltar fumaça pelas ventas quando redigia sobre a venda de algumas estatais, sobretudo a ex Companhia Vale do Rio Doce. Por isso, referia-se a Fernando Henrique Cardoso como um governante entreguista, mancomunado com os interesses estrangeiros. Para Hélio, a Vale não foi vendida, mas sim doada. E mencionava a privatização como um crime de lesa pátria. E se dirigia a FHC como o presidente do” retrocesso dos 80 anos em 8″, em contraponto a Juscelino Kubitschek, cujo lema era “50 anos em 5”, uma forma de dizer que faria o Brasil avançar 50 anos de industrialização e inovação durante os 5 anos de mandato. Deste Hélio (que era irmão do escritor e humorista Millôr Fernandes) terei muita saudade.