
Dúvidas quanto à proteção oferecida pela Coronavac no combate à Covid-19 levaram a Câmara de Maringá a aprovar hoje, por proposição dos vereadores Mário Hossokawa (PP) e Belino Bravin (PSD), pedido para que a prefeitura municipal libere a testagem sorológica de anticorpos para as pessoas imunizadas com a vacina. O assunto é controverso e estudos indicam que, mesmo com o resultado positivo para anticorpos contra a proteína S, será arriscado avaliar se a resposta do sistema imunológico foi induzida pela vacina ou se foi proveniente de uma infecção prévia pelo coronavírus. Votado em regime de urgência especial, o requerimento também pergunta se é possível estas pessoas receberam novamente as doses contra a Covid, porém de uma outra marca cuja proteção seja superior a da Coronavac. Hossokawa, 74 anos, presidente da Câmara Municipal, tomou as duas doses desta vacina e diz que Bravin, também imunizado com a Coronavac, conhece 6 ou 7 pessoas que receberam a mesma vacina, contraíram a Covid e morreram, incluindo Onildo Barile, irmão do vereador Onivaldo Barris (PSL). Onildo faleceu em 20 de maio, cerca de 10 dias após a segunda dose. Bravin, 74 anos, garantiu que vai entrar na justiça para tomar outra vacina caso o exame laboratorial aponte que o organismo não produziu anticorpos com a Coronavac. Segundo o vereador Delegado Luiz Alves (Republicanos), um amigo fez o teste de anticorpos, pagou R$ 250,00, e o resultado trouxe uma porcentagem diversa de proteção para cada tipo de cepa, variando de 78% a 90%. O que os vereadores estão questionando na verdade é a efetividade. Vários estudos feitos nos países onde a Coronavac tem sido aplicada, após a aprovação do imunizante pelas agencias de vigilância sanitária, demonstram que os dados de proteção variam de uma pesquisa para outra, divergindo dos resultados observados nas pesquisas clínicas. A Anvisa liberou o uso no Brasil com a eficácia um pouco acima de 50%. Na pesquisa feita pelo Instituto Butantan na cidade de Serrana, onde quase toda a população adulta recebeu as duas doses, a Coronavac alcançou efetividade de 80% contra casos sintomáticos. A injeção também preveniu as hospitalizações em 86% dos casos e a morte em 95%. Num levantamento focado no estado de São Paulo, a efetividade média em pessoas acima de 70 anos foi de 42%. E, conforme a idade aumenta, a taxa cai. Dos 70 aos 74 anos, ela fica em 61,8%. Entre 75 e 79 anos, 48,9% e dos 80 anos em diante é de apenas 28%. Entrevistado pela Veja Saúde, o imunologista Carlos Zárate-Bladés, do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), diz que a variação nesses índices também têm a ver com uma questão básica: a reação de cada sistema imunológico. “Existe variabilidade entre os seres humanos e entre as populações”, diz. É possível, portanto, comforme a reportagem, que características genéticas de determinado povo o faça responder melhor à imunização. “No mais, uma região com bom atendimento assistencial vai oferecer um suporte melhor à campanha de imunização, o que também conta. Além disso, hábitos de vida e doenças crônicas influenciam na resposta imune. As pesquisas clínicas incluem diferentes indivíduos justamente para checar se há algum contraste gritante entre cada subgrupo. A idade parece ser um componente importante para a efetividade de certas vacinas”, conclui.