
Um dos fundadores da Pastoral da Criança e articulador da criação do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), padre Júlio Lancelotti, 73 anos, de São Paulo, vai receber o título de cidadania honorária de Maringá por meio da Câmara Municipal. A proposição é da vereadora Professora Ana Lúcia Rodrigues (PDT), subscrita pelo presidente da Casa, Mário Hossokawa (PP), Alex Chaves (MDB), Sidnei Telles (Avante), Mário Verri (PT), Flávio Mantovani (Rede), Manoel Sobrinho (PL), Altamir (Podemos), Belino Bravin (PSD) e Maninho (PDT).
Para começar a tramitar o projeto, eram necessárias as assinaturas de dois terços da composição do legislativo local, formado por 15 vereadores e vereadoras. Agora protocolada, a propositura segue a tramitação normal, ainda sem prazo definido para a votação em plenário. Lancellotti é esperado para receber o título e conhecer as políticas desenvolvidas pelo município para a população em situação de rua. O arcebispo de Maringá, Dom Frei Severino Clasen, foi comunicado sobre a iniciativa.
Mais do que prestar uma homenagem, a solenidade de outorga deste tipo de honraria significa prestigiar e reconhecer o trabalho de pessoas que tenham se dedicado a atuar de forma exemplar tanto eticamente quanto moralmente e por prestar relevantes serviços a cidade, ajudando no seu desenvolvimento, na promoção do bem comum.
Ana Lúcia justifica a homenagem pela relevância do impacto que as medidas articuladas nacionalmente pelo padre surtiram em Maringá no que diz respeito às crianças em situação de vulnerabilidade, no acolhimento e no tratamentos a conviventes com HIV/AIDS e à população em situação de rua.
Prêmios e livros
Atualmente, Lancellotti é vigário episcopal do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo e defensor das políticas públicas para a acolhida da população em situação de rua, área em que atuava a professora Ana Lúcia desde quando era pesquisadora da UEM, na área de sociologia.
O padre é uma figura internacionalmente reconhecida, tendo recebido muitos prêmios e homenagens. Só para citar alguns: Prêmio Franz de Castro Holzwarth, em 2000, da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil; Prêmio OPAS, em 2003, da Organização Pan-Americana da Saúde; Prêmio Nacional de Direitos Humanos, em 2004, do Movimento Nacional de Direitos Humanos; Prêmio Nacional de Direitos Humanos, na categoria livre, em 2004, da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo; menção honrosa, em 2005, do Prêmio Alceu Amoroso Lima Direitos Humanos; Prêmio dos Direitos Humanos promovido pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, em 2007, na categoria “Enfrentamento à Pobreza; e o Prêmio Poc Awards na categoria “Influencer do Ano”, em 2020, do Gay Blog Br;
Lancellotti ainda é Doutor Honoris Causa pela Universidade São Judas Tadeu (USJT) e pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC).
Em 2021, foi um dos vencedores do Prêmio Zilda Arns pela Defesa e Promoção dos Direitos da Pessoa Idosa, da Câmara dos Deputados, reconhecido pelo seu trabalho em benefício da população em situação de rua.
Tem diversos livros publicados, alguns em parceria, entre eles “Defesa dos excluídos. São Paulo” (Salesiana); “O Jesus das ruas na trajetória do padre” (Conversas); “Tinha uma pedra no meio do caminho: invisíveis em situação de rua” (Matrioska); “Amor à maneira de Deus” (Planeta); e “Coração, amor e compaixão” (Selo da Rua).

Vítima de falastrões
Apesar do trabalho sério e de retidão na Postoral de Rua, o padre tem enfrentado acusações falsas e até xingamentos, como o do deputado estadual Arthur do Val (Podemos), o “Mamãe Falei”. Ao gravar áudios machistas, sobre mulheres refugiadas da Ucrânia, dizendo, entre outras coisas que “eram fáceis porque eram pobres”, o parlamentar atacou Julio Lancellotti, mencionando o trabalho do pároco de “deplorável”, além de qualificá-lo como “cafetão da miséria”.
Antes disso, em outubro de 2020, o deputado foi condenado pela Justiça Eleitoral a apagar todos os seus vídeos sobre o padre, e ainda proibido de divulgar novamente conteúdos que fizessem referência.
Lancellotti também sofreu uma tentativa de extorsão do ex-interno da então Febem, Anderson Marcos Batista, acompanhado de Conceição Eletério, num caso que foi parar na polícia após denúncia do padre, em 2007. O casal ameaçou o religioso durante três anos com acusações falsas de pedofilia para obter vantagem financeira. As investigações inocentaram o padre. Em maio de 2011, a Justiça condenou o casal a sete anos e três meses de prisão pelo crime de extorsão.