
Criado no Brasil um grupo de cerca de 50 pesquisadores para investigar e detalhar as ações de empresas públicas e privadas que teriam colaborado com a repressão e a violação de direitos humanos durante o regime militar de 1964 a 1985. O projeto se chama “A responsabilidade de empresas por violações de direitos durante a ditadura”.
As atividades estão em andamento desde novembro e o projeto é desenvolvido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), financiado a partir de uma indenização paga pela fabricante de automóveis Volkswagen, após investigações do Ministério Público Federal mostrarem que a empresa foi cúmplice da repressão exercida pelo regime militar.
O projeto ganhou aporte de R$ 2 milhões dos R$ 36,3 milhões pagos como indenização pela Volkswagen. O dinheiro vai bancar o trabalho dos pesquisadores que, em grupos, irão investigar, ao longo dos próximos 18 meses, a atuação de dez empresas durante a ditadura.
Um dos grupos cuja equipe é coordenada pela professora Ana Paula Goulart, da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), analisará as ações do jornal Folha de São Paulo.
Além da Folha de São Paulo, serão investigadas, pelos outros grupos, empresas como a Petrobras, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a montadora Fiat. A pesquisa não tem só caráter acadêmico, mas jurídico também. Serão investigados indícios concretos que podem levar à responsabilização das empresas, o que confere pioneirismo ao projeto.
Além da análise de documentos como base para a pesquisa, o grupo irá coletar testemunhos relacionados às suspeitas de envolvimento da Folha de São Paulo com o regime, a exemplo do possível fornecimento de veículos do jornal para a execução de ações como instalação de grampos telefônicos e emboscadas contra opositores.
A Volkswagen foi a primeira empresa na história brasileira responsabilizada pela violação de direitos humanos na ditadura. Na Argentina, por exemplo, isso já está bem mais avançado. Há casos de dirigentes de empresas que foram condenados e há um relatório extenso sobre a relação entre as empresas e a ditadura daquele país.