A foto que diz muito (ou tudo)

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Algumas observações sobre a passagem de Bolsonaro por Maringá. Talvez se a organização tivesse consultado o serviço meteorológico não teria se dado ao trabalho de montar as tendas levadas ao chão pelo vento no aeroporto horas antes da cerimônia. Alguns dirão, e com razão: mas se eles são negacionistas também não acreditariam na previsão do tempo. Serviço meteorológico é baseado em dados de satélite e cálculos das ciências exatas, portanto ciência. O custo de mudar o local da solenidade certamente exigiu mudanças de planos de segurança e logística. O pavilhão do Parque de Exposições fica numa área cujo entorno tem fluxo constante e intenso de tráfego. Ou seja, o aparato presidencial se desdobrou ainda mais. O cicerone mor, deputado federal Ricardo Barros, vai carregar para si o prestígio de ter trazido o presidente para uma inauguração (esta sim, de certa expressividade), o que o fortalece perante Bolsonaro, de quem é líder na Câmara, mas também não se livrará da desconfiança de ter organizado as vaias para o governador Ratinho Júinior (PSD) e o prefeito Ulisses Maia (PSD), além de ter arregimentado a claque responsável pelos apupos. E olha que Ratinho Junior talvez seja o governador mais bolsonarista da federação. Mas, a parada era outra e tinha a ver com disputa de espaço político doméstico sob interesse dos Barros. A novela das vaias ofuscou de certa maneira a presença de dois ministros no palanque: Bento Albuquerque, de Minas e Energia, e Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura. Sobre o respeito à legislação municipal vigente e as boas normas sanitárias, um show de horrores. O prefeito era um dos poucos que usava máscara, até porque tinha que dar o exemplo de estar cumprindo a normal legal. Bolsonaro, como sempre de cara limpa, assim como os membros de sua equipe. Resta saber se serão multados pela Prefeitura de Maringá. Parece surreal, mas ao término da cerimônia os jornalistas ficaram literalmente presos no cercadinho de onde fizeram a cobertura do evento. Os seguranças não os deixavam sair, aguardando o afastamento do presidente para não ser “incomodado” pela imprensa. Foram 20 minutos sitiados no biombo e, se não fosse os jornalistas decidirem romper a barreira por conta própria, o tempo de cerceamento seria maior. Sobre o restante da pantomima, como não havia condições para uma motociata, Bolsonaro desfilou na caçamba de uma picape. E a foto acima, com o perdão da redundância, vale por mil palavras. Nenhuma autoridade usava máscara. Sentado à janela, um segurança ficou com metade do corpo fora do veículo, cometendo infração de trânsito. Outro com o braço esticado se agarrava como podia no suporte da carroceria para não despencar lá de cima. Bolsonaro e Barros acenavam. O motorista de um carro na pista contrária sorri numa aparente aprovação. Na calçada do mesmo lado, o ciclista somente olha, talvez incrédulo. Era o único na cena que estava de máscara. Por fim, a passagem de Bolsonaro por aqui, para inaugurar a obra de modernização do aeroporto regional, foi mais um ato de campanha da reeleição disfarçada de agenda de celebração dos mil dias de governo. Nesta agenda, nenhuma grande obra social ou de impacto direto na mudança estrutural do País, no sentido de alterar a realidade de miséria, fome, desemprego e estagnação econômica na qual o Brasil está afundado. Talvez o momento mais patético nesta andança tenha sido a entrega de um trecho de apenas 10 quilômetros de asfalto na Bahia, anteontem. Como bem compilou o Portal UOL Notícias, esta agenda “positiva”, criada também para encobrir a crise econômica e queda da popularidade presidencial, reúne, na maioria, inaugurações de obras iniciadas em governos passados e de pequeno porte.


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