
Todas as pessoas que falam sobre ela citam em comum a determinação como uma característica nata de Dayane Cristina Alves da Silva, a Day para os amigos. Vendedora por vocação, a maringaense prestes a completar 34 anos tem olhos escuros, quase pequenos, rosto levemente comprido e cabelos pretos, longos, às vezes lisos às vezes com as pontas onduladas.
Seu tom de pele escuro lhe confere a aparência de uma descendente de árabes. Tem a fala mansa, cadenciada, como se quisesse reforçar a mensagem que se propõe a transmitir. Na família não há quem não aponte nela uma pessoa ambiciosa, decidida a crescer na carreira de forma ética e profissional.
Como resolvi escrever o perfil da Dayane em segredo para presenteá-la, procurei disfarçar ao máximo minhas observações nas vezes em que a encontrei no trabalho, uma loja no térreo do shopping Maringá Park, especializada em joias, hoje uma das cinco maiores redes do Brasil no segmento.
Fui buscar mais informações no Facebook dela para conhecer um pouco melhor sobre os hábitos e preferências. Analisei os últimos três anos de postagens. Dayane é uma mulher família, a começar pela foto do perfil onde aparece ao lado do marido, Rafael, um apaixonado torcedor do Palmeiras.Quando não está ao lado dele e dos filhos, surge acompanhada de amigos. Curte memes, frases de auto-ajuda e vídeos sentimentais, como o do ex-presidente norte-americano Barack Obama fazendo, em público, no final do mandato, uma declaração de amor e admiração à esposa Michele.
Não existem postagens de natureza política, nem à época da mais recente campanha para a eleição presidencial brasileira de 2018. Ela curte videos musicais, sobretudo os da banda inglesa Whitesmake e da alemã Scorpions. Gosta também do rock tupiniquim, incluindo o do grupo Capital Inicial, cujo vocalista é o frenético e simpático Dinho Ouro Preto

Dayane é a filha mais velha da servidora pública estadual Cleuza Caetano da Silva e do autônomo Vilmar Augusto da Silva. A mãe a define como uma pessoa “de temperamento forte, decidida em relação às coisas, que enfrenta tudo”.
Menos por oportunidade mas principalmente pelas circunstâncias da vida, Dayane parou os estudos ao terminar o ensino médio. A mãe entende que o curso de nível superior não fez falta porque a filha, além de inteligente e esclarecida, teve boa remuneração por onde passou em função do talento e da aptidão pelas vendas.
Auxiliar operacional na Universidade Estadual de Maringá (UEM), Cleuza enxerga na filha uma mulher vaidosa, usuária de cremes e perfumes. “A Dayane gosta de comer bem, gosta de vinho, e do bom”, diz. “Ela sempre foi baladeira. Tinha dia que dava vontade de bater nela e na Juliana, porque elas saíam muito”, brinca Cleuza, referindo-se a uma das melhores amigas da filha.
Nesta época, era comum Dayane levar Juliana e outras amigas para dormir em casa. Só se levantavam da cama no outro dia na hora do almoço. “A Juliana adorava minha maionese. Se você falar com ela, com certeza ela vai se lembrar disso”, diz a mãe.
Perguntar para Juliana sobre a amiga é como questionar um membro da Gaviões da Fiel, torcida uniformizada do Corinthians, se ele é apaixonado pelo clube.Nas palavras dela, Dayane é uma pessoa espetacular, sempre guerreira, muito trabalhadora, com astral positivo. Tanto que considera a amiga uma irmã, “a irmã que Deus permitiu escolher”. Jura nunca ter havido briga entre as duas. “Nunca admiti que alguém falasse dela para mim. E eu também não falo mal dela pra ninguém. Se precisamos conversar eu a procuro e fica tudo resolvido”, esclarece.
Dayane tem mania de limpeza da casa. Aprecia também cerveja e não gosta de pessoas que se vitimizam, negativas. Dedica-se muito em tudo o que faz e sempre tenta estar ao lado dos amigos. Tudo isso, segundo Juliana. Elas se conheceram no Colégio Estadual Dr José Gerardo Braga, coisa de 14 anos atrás. Faziam supletivo juntas e conversaram pela primeira vez num intervalo de aula. Até chegaram a trabalhar juntas no escritório de um shopping de atacado.
Hoje, Juliana Couto Valim, de 28 anos, natural de Guaratuba, não tem a mesma disponibilidade. Mãe de dois meninos gêmeos, também gerou uma menina especial, o que lhe exige tempo, cuidado e carinho.

A amizade entre as duas envolve tanta intensidade que se casou com um primo de Dayane, o operador de caminhões, Diego Carlos dos Santos.
No Facebook, o perfil de Juliana vai na mesma linha do de Dayane, com uma discreta diferença. Percebi que além de postar memes e demonstrar muito amor pelos filhos, de vez em quando ela escreve mensagens parecidas com recados a algum eventual desafeto.
Tive contato ainda com o consultor de empresas Claudir Rheinheimer, outro amigo de Dayane e Juliana, a quem elas chamam de “Paulo”.
Ele conheceu Dayane há cerca de 12 anos. Segundo Claudir, a relação deles tem sido pautada pela amizade, confidências e confiança mútua.
No entendimento do consultor, a amiga tem dois momentos bem distintos. Um deles é o momento menina, quando ela se mostrava divertida e muito festeira, numa época em que a convivência entre eles era mais efetiva. O outro é o da Dayane mulher, mãe e profissional dedicada. “Nossa amizade continua, mesmo com afazeres diferentes”, afirma.
Para ele, Dayane é amiga para todas as horas, sempre com um enorme sorriso no rosto, boa de papo e de copo. “Só posso desejar o melhor pra ela e pedir a Deus que lhe dê vida longa, com muita saúde”.
Muitas vezes vi Dayane reunida com a mãe na copa onde Cleuza trabalha, prédio da Reitoria. Parecem ter muita cumplicidade. Em uma das conversas rápidas que tive com Dayane, ela mostrou bastante preocupação com a mãe devido ao momento difícil pela qual a família passa em razão de alguns destes dissabores que o destino prega na vida da gente.
“Ela queria explorar outras coisas”
Pedi a Cleuza para se lembrar de mais um aspecto envolvendo a vida da filha e ela citou o pavio curto da moça, hoje nem tão curto assim porque, de acordo com a funcionária da UEM, Dayane foi se moldando com o tempo, ficando mais tolerante.
Destacou o carisma e o apreço da filha pela conversa com as pessoas, sejam pobres ou ricas, sem distinção. Lembrou das viagens feitas por Dayane para participar das convenções quando trabalhava numa operadora de telefonia móvel.
Indaguei sobre o motivo de a filha ter saído da operadora e a resposta foi: “ela queria explorar outras coisas. Já estava junto com a gerente, no mesmo nível”.
O primeiro emprego, no entanto, foi a UEM, onde trabalhou como mirim, fazendo a entrega de correspondências e recebendo documentos. Tinha entre 15 e 16 anos e atuou no Gabinete da Reitoria, piso superior do prédio, onde ficam o reitor, o vice, e setores como a Procuradoria Jurídica e a sala usada para as reuniões do Conselho de Administração da Universidade.
Atual secretária do Gabinete, Maria Inez Bocalon Rebola conviveu com a ex-mirim. Inez viu em Dayane uma garota tímida, de pouca fala, mas muito aplicada e pontual, e acredita que a moça levou consigo estas virtudes para as empresas onde passou a trabalhar.
Dayane está feliz na Bergerson, onde entrou faz três meses e cumpre expediente das 10 às 22 horas, com folga às quintas-feiras. Em que pese ser vendedora, fala com desenvoltura sobre os relógios, anéis, alianças e joias vendidas na loja, algumas com preço na casa de centenas de milhares de reais, porém de uma beleza única, de tocar até mesmo os menos sensíveis.
Tem dois irmãos: Liziê Priscila Silva, de 32 anos, também vendedora, e Vini Galisteu Augusto, de 23 anos. Fora do ambiente de trabalho e dos encontros com amigos, ela tem muitos afazeres em casa. Isso envolve a mania de limpeza de que tanto falou Juliana, sem contar na preocupação com o bem estar dos filhos Davi e Eduardo (Dudu), de 8 e 4 anos.

Rafael, o marido, vê na esposa a persistência e a inteligência como principais qualidades. Funcionário de um posto de combustíveis, admite que a teimosia dela, no entanto, é o principal motivo que o leva a perder a paciência com a parceira de vez em quando.
Ela tem cerca de 1 metro e 60 centímetros, estatura média para os padrões da mulher brasileira. Enquanto fala, tem o hábito de pôr a mão no queixo e gesticular bastante as mãos.
Gosta da cor preta, principalmente para se vestir, e tem no Lady Million seu perfume preferido, um Paco Rabanne luxuoso batizado com o nome do criador, o ex-estilista espanhol radicado na França, Francisco Rabaneda Cuervo.
A leitura é o principal hobby de Dayane. Também adora filmes e o seu predileto é Armagedom. Produção norte-americana, envolvendo ação e ficção científica, o vídeo acompanha um grupo de operários petrolíferos enviado pela Nasa para destruir um gigantesco asteróide em rota de colisão com a Terra, e o título deriva da grande tragédia relatada na bíblia.
Se o assunto é televisão, a preferência é por “Friends”, premiado seriado americano cujo enredo girava em torno de um grupo de amigos que vivia no bairro de Greenwich Village, na ilha de Manhattan, na cidade de Nova York.
Embora curta bandas roqueiras nas redes sociais, é fã do gênero sertanejo, especialmente da música “Jeito Carinhoso”, cantada por Jads e Jadson, aliás a canção preferida do casal Dayane e Rafael. Diz a estrofe refrão da letra: “Como eu quero/De novo um beijo seu muito gostoso/Do jeito que cê faz é carinhoso/Por isso eu quero suas mãos em mim/Como eu quero/O cheiro de amor que vem chegando/Trazendo o seu corpo só pra mim”.
Outra diversão é viajar e um dos passeios inesquecíveis para ela foi conhecer o Resort Costão do Santinho, em Florianópolis, Santa Catarina. Dedicada que é, tem o sonho de ser uma grande empreendedora, além de fazer uma viagem para o exterior.
Um pequeno texto de autoria do falecido escritor, psicanalista e educador Rubem Alves, postado por ela há quase três anos, dá uma dimensão sobre como pensa Dayane. Diz o texto: “A gente fica esperando que a alegria haverá de chegar depois da formatura, do casamento, do nascimento, da viagem, da promoção, da loteria, da eleição, da casa nova, da separação, da aposentadoria… E ela não chega porque a alegria não mora no futuro, mas só no agora”.